Fotografado ao lado de Jorge Picciani no dia em que o presidente licenciado da Assembleia Legislativa do Rio foi preso, o policial federal Plínio Ricciardi achou que nunca seria notado. Nem ele, nem seu irmão, que também é agente e aparece na imagem. Com os mesmos cabelos grisalhos, porte físico e óculos escuros, logo viraram meme: os gêmeos da Federal. O mais inusitado veio em seguida, quando ele recebeu uma ligação do presidente da Federação Nacional dos Policiais Federais (Fenapef) convidando-o para se candidatar a deputado federal no ano que vem, em nome da entidade.
O “gêmeo da Federal” foi alçado a um grupo de 24 policiais federais em 18 Estados que a Fenapef pretende lançar em 2018 para os cargos de deputado estadual, federal e senador. Segundo a federação, também integram o grupo Lucas Valença, o “Hipster da Federal”, e o já deputado Eduardo Bolsonaro (PSC-SP), escrivão da PF.
“Nunca tinha pensado nisso. Mas se for para ajudar a categoria em alguns projetos, pode ser”, disse Plínio. Na corporação desde 2005, seu projeto político, no entanto, ainda está cru: ele não sabe por qual partido ou quando se lançaria oficialmente. O policial de 41 anos, inclusive, diz que está “meio por fora” da política porque trabalhou durante as eleições de 2014 e 2016 e nem sequer votou.
Dos 24 policiais que a Fenapef quer lançar, até agora só 14 deram certeza que estarão na disputa. No ano passado, foram eleitos 23 policiais federais para vereadores e prefeitos, em 14 Estados. Foi um salto em comparação com as eleições municipais anteriores, de 2012, quando ainda não havia uma movimentação da federação e apenas nove delegados foram eleitos.
O grande diferencial de 2012 para 2016 foi a Operação Lava Jato, que manteve a Polícia Federal nas manchetes de jornais e a levou até ao cinema. “Em tese, a gente está se aproveitando do momento”, reconheceu o presidente da Fenapef, Luis Boudens. “Agora a polícia vai resolver a política de dentro. Em várias unidades, temos colegas convidados pela própria população”, disse.
Resolver “a política de dentro”, no caso, significa possivelmente participar de partidos cujos integrantes foram citados, denunciados, conduzidos coercitivamente ou até presos. Não consta na lista o PMDB de Picciani, mas os agentes se distribuem pelas siglas: PSDB, PSC, PRP, SD, PPS, PTB, PSD, PPL, PR, Patriotas e Rede – as duas últimas legendas são as únicas não envolvidas na Lava Jato.
A questão partidária está sendo, segundo Boudens, a mais delicada nas discussões internas. “Escolher partido se tornou uma dificuldade para os federais que querem atuar politicamente. Só que, infelizmente, a legislação obriga a vinculação partidária”, disse. “O colega que está vinculado ao PSDB, por exemplo, na região dele o partido não enfrentou problemas e isso tira um pouco esse peso do partido nacionalmente”, ponderou.
AGENDA
O principal objetivo da Fenapef é emplacar uma agenda com os interesses da categoria no Congresso. Nas palavras de Boudens, é “incentivar o combate à corrupção e lutar pela mudança no modelo de segurança pública adotado no Brasil”. Pode parecer uma pauta abrangente – e é – mas a segunda agenda, sobre segurança pública, é calcada em pilares que nada têm a ver com o que se discute na Frente Parlamentar de Segurança Pública, a chamada Bancada da Bala.
A agenda da federação é focada em questões práticas, como o aumento no trabalho de prevenção, a desburocratização e descentralização das investigações e a reestruturação da carreira policial, com foco na meritocracia.
Nada impede também que o grupo se divida nas pautas polêmicas. A federação se diz preocupada com Direitos Humanos e, por isso, se indispôs com um policial federal que já exerce mandato no Congresso, o Delegado Franceschini (SD-PR). Em maio de 2015, ele deixou o comando da Secretaria de Segurança Pública do Paraná após o confronto da Polícia Militar com professores em greve no Estado, que deixou 200 pessoas feridas.
Por outro lado, um dos nomes na lista de pré-candidatos é o filho de Jair Bolsonaro (PSC-RJ), Eduardo. Segundo Boudens, ele nunca ocupou nenhum cargo no Poder Executivo e, portanto, nunca se expôs negativamente. “O que ele faz, por enquanto, é defender suas ideias. Não há porque temer uma situação ou criar um tipo de restrição em relação a ele, se hoje no Congresso é um exímio defensor da segurança pública e da Polícia Federal”, afirmou.
Fonte: Estadão