Após uma série de negociações frustradas, os agentes da Polícia Federal pretendem endurecer o discurso contra o governo federal e já falam em iniciar paralisações no órgão nas próximas semanas. Os agentes da PF pedem reestruturação na carreira e aumento salarial de pelo menos 15,8%.
Desde a semana passada, agentes da PF realizaram paralisações pontuais em todo o Brasil e intensificaram conversas com o governo. As negociações, entretanto, não avançaram em pontos fundamentais. De início, o ministro da Justiça, José Eduardo Cardozo, era o interlocutor com a direção de entidades como a Federação Nacional dos Policiais Federais (Fenapef) e os sindicatos estaduais dos agentes da PF. Agora, o ministro-chefe da Secretaria-Geral da Presidência da República do Brasil, Gilberto Carvalho, é quem cuida das discussões.
Após as últimas reuniões, os policiais ficaram “revoltados” com as negativas do governo diante da pauta de reivindicação, que inclui, além de um aumento salarial de 15%, mudanças na estrutura da carreira, como o fim do inquérito policial e a possibilidade de que agentes de carreira possam comandar investigações (ato hoje privativo dos delegados).
Um interlocutor do ministro Gilberto Carvalho, conforme o iG apurou, chegou a acusar o vice-presidente da Fenapef, Luis Antônio Boudens, de iniciar uma mobilização de policiais por ser supostamente filiado ao PSDB. O dirigente sindical, na verdade, é ligado ao PSB.
Está marcada para o dia 27 de março uma reunião entre todos os dirigentes da Fenapef nos Estados para articular uma paralisação conjunta às vésperas da Copa do Mundo. A PF será responsável por parte do policiamento na Copa, assim como também fará o controle da entrada de estrangeiros durante os jogos.
Oficialmente, a Fenapef é contrária às paralisações, mas membros da entidade já admitem que podem usar esse recurso caso o governo não recue nas negociações com os agentes da Polícia Federal. Ainda como parte do movimento de mobilização, eles pretendem realizar passeatas e articulam apoios com outros movimentos sociais, como por exemplo o Movimento Passe Livre, responsável pelos protestos contra o aumento das passagens de ônibus em São Paulo em junho do ano passado.
Com essas mobilizações, as entidades ligadas à Fenapef e à própria Federação pretendem disseminar a informação de que o governo federal tem sucateado a PF e isso tem como resultado o aumento da criminalidade em todo o Brasil. Eles pretendem denunciar supostos atos de interferência política tanto em operações, quanto em ações da PF como estratégia de mobilização.
Outro mecanismo para “endurecer” o discurso com o governo é ironizar a campanha da presidente Dilma Rousseff (PT) em 2010. As entidades ligadas à Fenapef já articulam a elaboração de uma propaganda afirmando que, ao contrário do que a presidente prometeu, não teria ocorrido, segundo essas entidades, tratamento especial para as atividades do órgão.
Fonte: Último Segundo - IG